Programa de Gestão de Acervos
Difusão de acervo: Vitrais do Palácio das Indústrias
Neste ano de 2024 o Palácio das Indústrias, que é o prédio onde está situado o Museu Catavento, completa 100 anos desde a sua inauguração. Para a difusão de acervo deste quadrimestre foram escolhidos os vitrais do Salão Azul, espaço onde se localiza uma das grandes seções do museu conhecida como “Sociedade”. Os vitrais fazem parte do Patrimônio Cultural da cidade de São Paulo e acervo do Museu Catavento.
Os vitrais do Palácio das Indústrias foram produzidos no começo da década de 1920 pela Casa Conrado, que foi o primeiro ateliê de vitrais do país. A Casa Conrado foi fundada pelo alemão Conrado Sorgenicht, em 1889, e seu primeiro ateliê foi criado no bairro do Belenzinho, região localizada no início da zona leste de São Paulo.
O estilo escolhido para os vitrais do Palácio das Indústrias foi o neogótico, que diferente do estilo gótico possui uma estética mais suave e romântica. O prédio foi construído no auge do comércio do café e era um prédio destinado a exposições agroindustriais, visitado sobretudo pela elite cafeicultora de São Paulo, muitos elementos da indústria do café foram homenageados na arquitetura do prédio.
Os vitrais podem ser interpretados de diversas formas, aqui iremos interpretar seguindo a ordem cronológica da produção de café, sendo assim a ordem para observação seria do vitral da esquerda para o da direita, em cada um é apresentado uma das fases diferentes do café na cidade de São Paulo. Conrado e sua equipe “abrasileirou” os deuses gregos representados para que, conceitualmente, fosse possível falar do café em sua: produção, comercialização e industrialização.
Em todos os vitrais é possível observar os putti -plural de putto- palavra que do latim significa menino; no campo das artes os putti são pinturas ou esculturas de meninos, geralmente nus, representado muitas vezes com asas, sendo uma derivação da figura do deus Eros, logo os putti são vistos como cupidos jovens. Nos vitrais o proletariado é representado pelos putti, silenciando assim as realidades escravocratas e imigratórias da época.
No primeiro vitral (da esquerda para a direita), temos a representação da deusa Deméter, que é conhecida por ser a deusa da fertilidade, colheita e da agricultura. Na imagem ela segura na mão direita uma foice, instrumento muito usado no campo, já a mão esquerda está apontando para um cesto com diversas frutas novamente simbolizando a fertilidade do solo, nas laterais da imagem de Deméter é possível ver os putti colhendo o café de um lado e do outro os putti fazem carinho em animal que parece ser um cabrito. O primeiro vitral representa a agricultura e o solo fértil brasileiro, com a colheita do café.
No vitral central, podemos ver a imagem do deus Hermes, que é conhecido como deus do comércio, riqueza e da viagem, pode ser observado que na mão esquerda Hermes está segurando um saco que parece ter moedas dentro, e na direita segura o caduceu, bastão com duas cobras enroladas e asas no topo que na Antiguidade representava a boa conduta e o equilíbrio moral. Nas laterais os putti estão carregando os cafés ensacados e viajando com as sacas em navios. O vitral central representa o comércio terrestre do café, as grandes navegações para comércio marítimo e a economia que o café movia.
No terceiro e último vitral, dentro desta interpretação iconográfica, há uma imagem feminina que se assemelha a imagem de Atena, porém foi “abrasileirada” para caber no conceito da produção de café no Brasil. Atena é a considerada deusa da sabedoria, da estratégia em guerras e da habilidade, também é considerada protetora das cidades, e da indústria. A imagem apoia o braço esquerdo em uma roda de engrenagem, que simboliza a indústria e o desenvolvimento dos maquinários, a mão direita segura uma marreta que está apoiada no chão, instrumento muito usado no meio industrial que representa força e trabalho árduo. Os putti em volta da imagem representam os diversos campos industriais como a marcenaria e metalurgia. O último vitral representa a industrialização do mercado do café e a evolução que os grãos proporcionaram para a indústria
Texto: Nicole Martins